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Amadurecimento da mídia ou espetacularização da notícia?

O comportamento dos veículos de comunicação no caso Thor Batista X Wanderson Santos

Se no Brasil há um príncipe herdeiro, esse príncipe é Thor Batista (como ele mesmo afirmou em sua conta no Twitter). Acontece que o filho do homem mais rico do Brasil e da musa número um do nosso carnaval, Eike Batista e Luma de Oliveira, envolveu-se em um acidente de trânsito com graves consequências no dia 18 de março deste ano. Bom, grave, pelo menos, para a família da vítima, Wanderson Pereira dos Santos, que faleceu na hora.

Assim como seu pai, Eike, Luciano Huck também defendeu Thor prontamente

Como em tempos de modernidade líquida, o que importa é dar a notícia primeiro, Thor apresou-se em contar “a sua versão dos fatos” – outra vez no Twitter, como lembrou Ricardo Noblat em um post em seu blog . Numa sequência de 63 posts Thor afirmou que não teve culpa nenhuma no acidente: estava transitando dentro da sua faixa, na velocidade permitida pela via e não havia bebido.

Logo, seu pai, Eike Batista, tratou de defende-lo com unhas e dentes. Ele usou de todos os meios possíveis para livrar o filho de qualquer culpa, tanto junto à opinião pública, usando seu prestígio e posição de destaque para reiterar a posição do filho, quanto jurídica, contratando o melhor advogado que o seu dinheiro poderia pagar, no caso, Marcio Thomás Bastos, ex-ministro da Justiça do Brasil e considerado “O” melhor do país. Ora, normal um pai querer defender a sua cria, mas, também não é normal querer educa-lo para ser um bom cidadão? Nesse caso, Eike deveria saber que o filho já tinha mais de 50 pontos na carteira de habilitação e não deveria nem estar dirigindo! Lembrando que o papai liberou um outro carro para Thor, uma Ferrari, (que foi apreendida por não estar com a placa dianteira). Pois, a Mercedes foi completamente destruída no acidente e ainda permanece apreendida pela perícia.

Carro de Thor após o acidente

Mais tarde ficou comprovado pela perícia que, como afirmou Eike, Wanderson tinha sim ingerido álcool e atravessou a pista de forma imprudente. Quanto há Thor, ele realmente não havia bebido. Porém, estava acima do limite de velocidade permitida. O limite da rodovia era de 110 km/h, Thor andava com sua Mercedes SLR McLaren, que custa pelo menos R$ 2,7 milhões a, no mínimo 135 km/h e, segundo testemunhas, realizava ultrapassagens em ziguezague quando atropelou Wanderson em sua bicicleta. Thor e sues advogados vão recorrer e querem uma nova perícia, desta vez particular. O delegado que investiga o caso, Márcio Roberto Arruda, afirmou que houve uma culpa concorrente, quando os dois são responsáveis pelo acontecido.

No caso do idoso de 86 que, segundo o jornalista Ancelmo Góes, também foi atropelado por Thor (desta vez em um Audi) enquanto andava de bicicleta em uma Avenida do Rio de Janeiro, no dia 27 de maio de 2007, o caso não passou de uma fatalidade e tudo foi resolvido direto com a família Batista, que prestou toda assistência. Já no caso da família de Wanderson, o caso vai seguir adiante. Pelo menos é o que afirmou o advogado Cleber Carvalho, que declarou que vai sim continuar com o processo por homicídio.

Thor com seu pai

Se a intenção da família Santos de punir Thor, mesmo com sua condição infinitamente mais humilde do que a dos Batistas (e sabemos que isso conta muito em nosso país) vai continuar, não sabemos. O que se pode tirar desta situação toda é que o país e a mídia do país evoluíram. A despeito da possibilidade de retaliação do bilionário Eike Batista, os fatos foram amplamente noticiados e inúmeros colunistas deram suas opiniões em blogs de grande acesso, como O Blog do Noblat (como já dissemos) do O Globo e Eliane Brum, da Época. O caso não foi “jogado para baixo do tapete” como vemos acontecer em muitos outros assuntos, onde uma guerra silenciosa entre mídia e poderosos se institui e a primeira, na grande maioria das vezes, sai derrotada. Em um primeiro momento, houve o relato dos fatos sem crucificar Thor, pois, ainda não havia nenhuma conclusão oficial do caso. A cada novo elemento, as notícias foram dadas, claro que, depois de passado algum tempo, as manchetes já não tinham o mesmo peso, mas, mesmo assim, tinham o destaque que o assunto merecia. E os seus desdobramentos ainda estão sendo acompanhados de perto pelos veículos de comunicação.

Porém, se esse é apenas mais um caso no qual os elementos são tão perfeitos para um grande espetáculo da notícia – o conflito ricos x pobres, personagens famosos, um acidente trágico e poderosos posicionando-se – que compensa correr o risco ou se realmente há um amadurecimento da mídia como um todo (muito por conta da pressão popular), que resolveu acompanhar o caso para que ajustiça seja de fato feita, ainda é muito cedo para responder. Teremos que esperar pelos próximos capítulos dessa novela.

Mariana Alves
Com contribuições da equipe de trabalho

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Publicado em junho 2, 2012 por .